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     03/05/2024            
 
 
    

Escolhi esse tema a fim de prestar uma justa homenagem a esta cultivar responsável pela expansão da pecuária não apenas no Brasil, mas também em áreas de solos pobres e ácidos de toda a América Latina.

Originária de pradarias da região dos Grandes Lagos em Uganda, a jornada dessa cultivar iniciou pelo envio de sementes  pelo Departamento de Agricultura de Uganda para a Austrália em 1930, onde ganhou o registro CPI 1694. Testes foram conduzidos em South Johnstone, no estado de Queensland entre 1956 e 1966 e resultados mostraram sua alta produtividade, boa resposta a aplicações de fertilizante nitrogenado com aumentos da produção de matéria seca e do conteúdo de proteína bruta.   A germinação das sementes, no entanto era sempre baixa até que se descobriu o tratamento por ácido sulfúrico para a quebra da dormência, e isso viabilizou a utilização comercial dessa cultivar. A aprovação para liberação comercial veio em 1966 e o registro oficial saiu em 1973 pelo “Queensland Herbage Plant Liaison Committee”. Não encontrei referência quanto a escolha do nome, mas perto de South Johnsotne fica a região denominada Basilisk, e pode ter sido essa a razão de chamá-la cultivar Basilisk.

A expansão dessa cultivar a partir de 1965 deveu-se ao interesse do Brasil em  ampliar a pecuária até então concentrada nos estados do sul e sudeste. A ação do CONDEPE (Conselho Nacional de Desenvolvimento da Pecuária), criado em 1967 e de programas de incentivo à formação de pastagens com juros baixos e longos prazos de financiamento como PROPASTO, POLOCENTRO e POPEC, trouxeram progresso e a colonização para o Brasil Central. Milhares de hectares foram desbravados e muitas áreas foram formadas até com semeadura por avião. Para a formação dessas pastagens foram necessárias enormes quantidades de sementes e o desconhecimento de técnicas que possibilitassem a produção de sementes da cv. Basilisk e de outras espécies em escala comercial, foi responsável pela importação da Austrália. Assim navios carregados de sementes australianas chegaram em grande quantidade aos portos brasileiros. Com isso a B. decumbens também ficou conhecida como braquiária australiana. Isso durou até 1975, pois em agosto de 1974 o Ministério da Agricultura proibiu a importação de importação  dada a ameaça da introdução da "ferrugem da soja" através destas sementes. Ainda assim, em 1975 foram importadas mais de 1.600 toneladas de sementes de forrageiras, num valor total que excedeu US$ 2,80 milhões. O interesse por essa cultivar rústica que tão bem adaptou-se aos solos ácidos e fracos dos cerrados brasileiros, e que multiplicou por 2 a 3 vezes o ganho de peso vivo de bovinos em pastagens fez com que a demanda por sementes fosse crescente. Então empresas sementeiras nacionais rapidamente desenvolveram e adaptaram tecnologias de produção para o Brasil e passaram a comercializar essa que era a grande desbravadora do Brasil Central, o “capim milagroso”. Muitos pecuaristas referem-se à era antes e depois da braquiária visto sua importância na colonização dos cerrados e na projeção da pecuária nacional a patamares significativos. Não demorou a aparecem problemas nesses enormes monocultivos – a cigarrinhas-das-pastagens disseminou-se e “queimou” milhões de hectares na época das chuvas na década de 1980, justamente quando mais se esperava que ganhassem peso vivo. Apareceu ainda a morte de animais, principalmente bezerros por fotossensibilização ou “requeima” também atribuída à cv. Basilisk. Foi então que organizações de pesquisa se preocuparam em importar do continente africano, germoplasma de outras braquiárias para tentar contornar o problema de falta de opções forrageiras para a formação de pastagens. Em 1984 foi liberada a B. brizantha cv. Marandu, resistente a cigarrinhas, porém mais exigente em fertilidade do solo. Desde então outras braquiárias integram o portfólio de opções forrageiras como a cv. Xaraés, cv. Piatã, cv. Mulato e várias de Panicum maximum.

Mesmo com a susceptibilidade ao inseto, essa cultivar segue sendo um importante componente das pastagens brasileiras e relevante item na pauta de exportação de sementes forrageiras tropicais. Com a recente viabilização de cruzamentos usando a B. decumbens cv. Basilisk como parental apomíticos e plantas sexuais especiais dessa mesma espécie espera-se finalmente aproveitar o muito que essa cultivar tem de vantagens, como a forte adaptação a solos inférteis, rápido estabelecimento e alta produção de forragem com boa palatabilidade, boa produção de sementes, tolerância ao pastejo pesado e pisoteio, e selecionar para maior resistência a cigarrinhas nas progênies resultantes. Esse seria um nobre e justo final feliz para essa cultivar que tanto tem contribuído com a pecuária de carne e leite brasileira.

 

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